Durante muito tempo, os locais do mundo separados por grandes distâncias marítimas só podiam manter a comunicação pela via dos oceanos. Foi assim que, até a primeira metade do século XX, o Brasil manteve suas principais relações comerciais, por meio de navios que deixavam e chegavam nos principais portos, vindos de lugares diversos. Durante o período da colonização, o entreposto com a Europa era feito sobretudo por meio de Portugal. A partir da abertura dos Portos, em 1808, as embarcações saídas do Brasil puderam navegar diretamente para outras regiões europeias. O contato com o continente Africano também era frequente, alimentado sobretudo pelo tráfico de escravos.
Não somente o comércio era ditado pelo ritmo marítimo, mas também quase todo e qualquer contato humano além-mar. Neste sentido, o correio marítimo desempenhou um papel crucial. Envio de cartas, livros, recebimentos de notícias, tudo era carregado por embarcações, as quais, até o século XIX, podiam demorar de dois a quatro meses no percurso entre Brasil e Portugal. Este tempo só foi diminuído a partir da navegação a vapor, responsável por tornar a comunicação e o comércio mais ágil. O século XX, contudo, traria um meio de transporte responsável por revolucionar as noções de distância: o avião.
Paralelamente a este processo, foram desenvolvidos selos postais exclusivos para cartas enviadas por avião, o que deu por sua vez origem à um ramo do colecionismo chamado “aerofilatelia”. Os selos postais aéreos são documentos deste período histórico bastante específico, no qual o mundo passa a se interligar de forma cada vez mais rápida pelo ar. É um novo momento para a globalização, marcado pela adição do espaço aéreo ao marítimo e terrestre. Estes selos possuem a característica particular de muitas vezes terem sido impressos pelas próprias empresas aéreas. Por eles eram cobrados, além do porte, uma taxa extra que tinha como intuito ser investido no correio por ar.
O desenvolvimento do correio aéreo está inserido no contexto da expansão global da comunicação e da busca de novos mercados a partir do fim da Primeira Guerra Mundial. Foi neste momento que surgiram diversas empresas europeias preocupadas em redirecionar os aviões de guerra em meios para o transporte de correspondência e mercadorias. No Brasil, em 1927 foi feito o primeiro voo comercial, operado pela Sindicato Condor, empresa alemã que buscava expandir seu mercado para a América Latina. Em 22 de fevereiro, o hidroavião Atlântico fez o primeiro transporte de cartas por avião, em uma viagem entre Porto Alegre e Pelotas, no Rio Grande do Sul. No mesmo ano, em março, foi autorizado o funcionamento de uma linha postal aérea brasileira pelo Ministério da Viação, a ser realizada pelo Condor Syndicat. Os selos postais específicos para as cartas transportadas por avião foram lançados em 8 de novembro deste ano, impressos na Alemanha e exclusivos da Sindicato Condor para a linha entre Porto Alegre e Rio de Janeiro (idem).
No mesmo ano, em maio, foi criada a primeira empresa comercial aérea brasileira, a Varig, também por iniciativa de um alemão, Otto Meyer. Esta companhia também contou com a emissão de selos postais exclusivos. Em junho, devido aos acordos entre a empresa brasileira e a Condor, o hidroavião Atlântico foi transferido para posse da primeira. A Varig também passou a operar a “linha da Lagoa”, como ficou conhecida a rota entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, em referência à Lagoa dos Patos. Os selos postais desta companhia foram inicialmente provisórios, sendo aplicada uma sobrestampa em selos da Sindicato Condor. Selos exclusivos, impressos na Editora Globo, em Porto Alegre, com a figura de Ícaro, passaram a existir a partir de 1931.
A estampa que indicava uso da sobretaxa para serviço aéreo foi comum. Inclusive, durante algum tempo, eram aplicadas em selos já existentes para indicar que eram de uso exclusivo do transporte de cartas por aviões. Este foi o caso dos selos oficiais “Marechal Hermes”, lançados pela primeira vez em 1913, que aparecem com sobrestampa do serviço aéreo a partir de 1927.
Os primeiros voos internacionais para a costa brasileira foram realizados a partir da exploração francesa, por meio da Lignes Aériennes Latecoère, posteriormente transformada em Compagnie Générale Aéropostale – CGA. Os primeiros voos que pousaram do oceano atlântico em Natal/RN foram realizados por esta companhia. Ela foi criada em 1918, após o fim da Primeira Guerra, quando o engenheiro Pierre-Georges Latécoère sugeriu ao governo francês a criação de uma linha aérea comercial entre França, Marrocos, Senegal e América do Sul. Latéocère produziu aviões de guerra para o exército francês e, nos tempos de paz, decidiu empreender esforços no sentido de criar rotas de aviões para ligações de comércio. O primeiro voo da “Linha”, como ficou conhecida, se deu em 25 de dezembro de 1918, entre Tolouse e Barcelona (MUSEU, 2009, p.46).
Em 1919 as expedições foram alargadas para a África do Norte, quando foi inaugurada a linha Tolouse-Barcelona-Rabat (Marrocos) e, no ano seguinte, Casablanca, também no Marrocos, foi incluído no percurso. Neste contexto é iniciada a contratação das Linhas Aéreas Latécoère pela Administração dos Correios, e as cartas passaram a ser transportadas por esta companhia. Aviões de guerra (Breguet XVI) foram adaptados, recebendo caixas de armazenamento de correspondência abaixo das asas (MUSEU, 2009, p.47).
Os planos continuaram tendo em vista o objetivo final de expandir a rota até a América do sul. Para isso, Pierre Geroges Latécoère contratou o capitão Joseph Roig para uma missão de reconhecimento para possível abertura de rota. A expedição durou cerca de três meses, quando diversos aviões cruzaram territórios argentinos e brasileiros e foi feito um plano de rota postal. Contudo, a ambição de uma linha para a América do Sul só se concretizaria anos depois (MUSEU, 2009, p.50).
Em 12 de maio de 1930 foi realizada a primeira viagem de travessia do Atlântico sul no hidroavião Laté 28-3, o Comte de la Valux, pilotado pelo aviador francês Jean Mermoz. O ex-piloto da Aeronáutica foi um dos melhores à trabalho na Aeropostàle, realizando 24 viagens de travessia do Atlântico entre 1930 e 1936 (p.55). À bordo, eram carregadas mais de 100 kg de cartas (Teixeira, p.53). O percurso foi entre Saint-Louis, no Senegal e Natal-RN, no Brasil. A empreitada foi iniciativa da empresa Áeropostale. Os planos da empresa de aviação para expandir os voos para a América do Sul foram finalmente concretizados. Antes disso, o correio saído do Senegal para o Brasil era feito por navio e a viagem durava 4 dias. Mermoz, por ar, conseguiu reduzir o percurso para 21 horas, chegando à Natal em 13 de maio pela manhã. O piloto continuou a trabalhar regularmente para a Aeropostale até ser vítima de um acidente aéreo no Atlântico, na qual foi impossível localizar qualquer vestígio. Desde então, o piloto foi bastante homenageado, sendo motivo de selos postais franceses e de diversos lugares da América Latina (MUSEU, 2009, p.55).
Após a primeira experiência francesa, se tornou comum a exploração de rotas aéreas via Natal-RN por outras companhias europeias, sobretudo da Alemanha (Condor), EUA (Pan Am) e Itália (LATI). Esses voos inicialmente eram destinados para o envio de correspondências e encomendas, passando a comportar passageiros somente em 1936. É importante notar que os países europeus a realizarem estas viagens são as principais relações comerciais do Brasil naquele momento, e também participantes em polos opostos da Segunda Guerra Mundial que aconteceria após alguns anos (França e Estados Unidos faziam parte dos Aliados, enquanto Itália e Alemanha, do Eixo). Nesta conjuntura de disputas imperialistas, estas empresas sempre voltaram os olhos pare territórios dos continentes africanos e americanos. E, neste sentido, foi também possível realizarem outras conexões entre Brasil e África, anteriormente ligados pela questão da escravidão. Os novos percursos partiram sobretudo do Senegal, pois este país e o Brasil foram inseridos na rota de empresas aéreas que se interessavam na ligação comercial entre Europa, África e América.
O correio aéreo também foi marcado com a inauguração da rota comercial do dirigível Graf Zeppelin para o Brasil, em 18 de maio de 1930. Foi um vôo de Frieddichsjaven, Alemanha, para o Rio de Janeiro, com escalas por Sevilha e Recife. Para garantir o porteamento das correspondências carregadas, foram impressos selos específicos na Alemanha. Alguns selos deste estilo trazem a sobrestampa “USA”, utilizada na viagem de volta do Zeppelin para a Europa, quando realizava escala nos Estados Unidos (ALMEIDA, 2003, p.104-105).
Por fim, é necessário destacar a atuação do Correio Aéreo Nacional, iniciativa militar dos anos 1930 que foi responsável por ajudar a integrar territorialmente as vastas dimensões continentais brasileiras por meio do avião. Em 12 de junho de 1931 o Correio Aéreo Nacional funcionou pela primeira vez, e o avião Curtiss Fledgling K263 levou cartas do Rio de Janeiro para São Paulo. A partir dessa primeira rota, outras se seguiram, e o serviço foi expandido para Goiás, Mato Grosso, Curitiba e até ao Paraguai. Também houve rota específica para o São Francisco. Após a Segunda Guerra, esse projeto passou a ser cada vez mais incentivado e, atualmente, alcança todas as regiões do país, cumprido seu objetivo de garantir a integração territorial (CAMBESES JÚNIOR, s/d).
Fonte: Blog dos Correios
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